Docentes, funcionários, estudantes e antigos combatentes juntaram-se no Campus Universitário de N’coripo, na cidade de Montepuez, na província de Cabo Delgado, para reflectirem sobre o tortuoso percurso dos 10 anos de luta armada que culminou com a independência de Moçambique, a 25 de Junho de 1975.
A reflexão decorreu nas vésperas do dia 25 de Junho, reunindo, no mesmo local, a administradora do distrito de Montepuez, Isaura Máquina, representantes dos antigos combatentes, docentes, estudantes, funcionários daquela instituição de ensino superior e interessados.
Falando na abertura da palestra, a administradora disse que esta visava reflectir em torno do objectivo da luta armada de libertação nacional, os anos subsequentes à independência, os actuais momentos e o futuro do País em termos do seu desenvolvimento em todas vertentes.
Isaura Máquina pediu aos presentes para que contribuíssem para o seu próprio desenvolvimento, optando pelo empreendedorismo como forma de suprir a falta de emprego que afecta, consideravelmente, a juventude, não somente em Cabo Delgado, como também em todo o País.
O combate à corrupção, a defesa dos recursos minerais que abundam em Cabo Delgado, a industrialização, a inclusão social, entre outros, foram os pontos aflorados nas discussões da palestra, cujo tema foi Reflexão sobre Motivações, Percursos, Retroacção da Luta Armada pela Independência de Moçambique e as Perspectivas Face aos Desafios Modernos.
O Coronel Luís Crisanto Nhantimbo, antigo combatente, partilhou a sua experiência na guerrilha nacionalista, destacando o papel do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Doutor Eduardo Chivambo Mondlane, na unificação de diferentes movimentos antagónicos e opostos à dominação portuguesa.
Um outro membro da ACLLIN (Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional), Cristóvão Nanchacha, anotou que a luta pela libertação de Moçambique foi necessária, pois que ela libertou os moçambicanos da opressão, do trabalho forçado e da discriminação em todas esferas da vida.
Uma outra questão levantada nos debates foi se os painelistas, maioritariamente antigos combatentes, consideravam haver evidências de que os moçambicanos estão a viver, efectivamente, livres, tendo António Cornélio Mussa respondido positivamente.
Temos evidências disso como, por exemplo, a constituição do País em República, a abertura de vias de acesso, a construção de escolas, infraestruturas hospitalares, rodoviárias, de serviços, entre muitas realizações, acrescentou Cornélio Mussa, antigo professor das zonas libertadas.
O mesmo interveniente reconheceu, todavia, ter havido clivagens no seio do movimento libertador, resultando na criação da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), constituída por moçambicanos desavindos e que com o apoio da antiga Rodésia do Sul e, mais tarde, do regime do Apartheid na África do Sul arrastaram o País para uma guerra fratricida que durou 16 anos.
Um docente da Universidade Rovuma – Extensão de Montepuez, dr. Mateus Lino, insurgiu-se contra a expressão independência total e completa, termo usado pelo primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, durante a proclamação da independência nacional, no Estádio da Machava. Para ele, o País é, sim, independente, mas não concorda com a denominação total e completa, pois, citando o pensamento do antigo presidente tanzaniano, Mwalimu Julius Kambarage Nyerere, um País não pode ser completamente independente enquanto viver de apoios financeiros de outros países.